Passei muito tempo tentando “suprir meus vazios” até descobrir
que o que apertava o meu peito era a quantidade de entulhos emocionais que eu
carregava. Eu precisava era do vazio para me sentir internamente arejado e com
bastante espaço para crescer. A angústia não é um vazio, é uma corrente que se
arrasta. O vazio é uma possibilidade, uma lacuna a ser preenchido, um espaço
para uma decoração nova. Precisamos de páginas em branco para que nasçam
poemas, de recipientes disponíveis, de um coração espaçoso, de uma alma livre,
de uma mente aberta. O vazio só existe para os desapegados, para os que
suportam e celebram o silêncio que possibilita-nos ouvir os sussurros da
intuição e não os gritos infantis dos desejos imediatos. O vazio é uma
esperança maciça. Ele não é apenas a falta que nos move e motiva, mas a
lembrança mais genuína de que somos seres inacabados e que precisamos nos
construir diariamente, incansável e eternamente. O vazio não é um abandono de
si, é um reconhecimento do eu, um convite para o Outro, algo que deve ser
preenchido temporariamente, dentro do mesmo movimento humano de acordar sempre
um desconhecido. O vazio é uma curiosidade que ainda não foi desvendada. É ter
braços livres para o abraço que acabará daqui a pouco, mas que ecoará constantemente
na lembrança mais bonita. Porque no toque intenso, o afeto estava leve.
— Marla de Queiroz
— Marla de Queiroz
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