"Quando o interesse é o avaliador dos homens, das coisas e dos eventos, a avaliação é quase sempre imperfeita e pouco exata."
sexta-feira, 26 de julho de 2013
Aos caminhos, eu entrego o nosso encontro.
Não
me aproximo porque, veja bem, sabe lá quem habita a tua solidão. Hesito. Recuo.
Me afasto tristíssimo. E te imagino em poses e sorrisos, nas minhas fantasias
mais loucas e movimentadas. Numa delas sou um bichinho invisível, com asas, que
adentra tua casa e te observa em segredo. Faço o contorno do teu corpo todo com
os olhos, parado contra a parede do teu quarto, imóvel, enquanto tu te atiras
na cama. Cansada. Tu olhas para o teto imaginando mil coisas, memórias, compromissos,
desejos, saudades. Te fito com dor. A luz do abajur faz sombra na tua pilha de
livros, que folheei um dia e quis pedir emprestado... Por razões que
desconheço, nossas aproximações foram sempre pela metade. Interrompidas. Um
passo para a frente e cem para trás. Retrocessos. Descaminhos. Procuro sinais
de algum amor teu. Vestígios de noites passadas. Tu não me vês, estou incógnito
a te observar. Como sempre estive, olhando pelas janelas, de longe, coração
apertado. Nós poderíamos ser amigos e trocar confidências. Assistiríamos a
filmes, taça de vinho nas mãos, e tu me detalharias as tuas paixões e
desatinos. Nós poderíamos ser amantes que bebem champanhe pela manhã aos beijos
num hotel em Paris. Caminharíamos pela beira do Sena, e eu te olharia atento,
numa tentativa indisfarçável de gravar o momento e guardá-lo comigo até o fim
dos meus dias. Ou poderíamos ser apenas o que somos, duas pessoas com uma
ligação estranha, sutilezas e asperezas subentendidas, possibilidades de
surpresas boas. Ou não. Difícil saber. Bato minhas asas em retirada. Tu dormes,
e nos teus sonhos mais secretos, não posso entrar. Embora queira. À distância,
permaneço te contemplando. E me pergunto se, quem sabe um dia, na hora certa,
nosso encontro pode acontecer inteiro. Porque tu és a única que habita a minha
solidão.
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